quinta-feira, 28 de maio de 2009

ANTES QUE ESTE MAIO ACABE






Receita de Maios



Andei aqui, espalhando lembranças de alguns maios de minha vida... Este, de 2009 está indo embora. Que se vá com alegria, promessas de novos encontros e descobertas pelo ano afora.

Maio das flores, das noivas, das mães, de 68, já foram nossos comentários. Deixei as impressões do atual maio para conversar agora .

Desejos misturados às lembranças...dentro de mim.

Garotas, ainda, queremos crescer rápido e ficar mocinhas. O nosso espelho é
nossa mãe. Seus vestidos, sapatos, jóias - nos tempos de hoje, bijuterias - nos atraem e a imitação é inevitável. Em primeiro lugar, desejamos ser nossas mães.

Em pequenas, lhes devotamos admiração integral.Crescemos, as mães envelhecem, algumas partem cedo e de modo definitivo, por abandono ou morte. Deixamo-nos lá atrás, apenas, como recordações de infância.

Aproveito o mes, diante de recentes acontecimentos, para arrumar minhas gavetas. De diferentes conteúdos e tamanhos, uns volumosos outros magrinhos... mas no
mesmo armário, fui reorganizando tudo, meus papéis e seus significados.

Comecei ,com muito cuidado, pelo primeiro que tive em minha vida e já não
mais existe de fato, só de alguns direitos e lembranças...Filha.

Os outros foram vindo, e de forma suave, atenta, como quem embrulha ou desfaz os
embrulhos das louças, na mudança, revisitei-os... sem espanto e com saudade.

O de neta coloquei-o na gaveta ao lado do de filha; pensei em juntar, nesta mesma gaveta, o de sobrinha; tais as semelhanças e alegrias. Mas, desisti. Eram apenas parecidas e bem juntinhas estavam aguardando um lugar mais amplo e merecido.

Então resolvi: Daqui prá frente, coisa boa fica guardada num espaço de destaque, abri a terceira gaveta sobrinha e, coloquei todos os guardados de tias, afinal foram quatro e três moravam distante.

Quando aqui cheguei herdei: Pai e mãe, tia-avó e avó materna, um avô emprestado, e uma tia. Todos, no Rio. Duas tias e um tio, em Recife, com seus maridos , mulher e filhos - duas primas e um primo. Não nasci sozinha!

Fui, tentando entender a arrumação. Até considerar como cada papel chegou, uns num tempo diferente de outros, muitas vezes em distintos lugares. Alguns juntos, mesma cidade, espaços próximos, mas interesses variados.

Por exemplo, o de irmã foi fácil organizar... meu único irmão, chegou dois anos e sete meses depois ... Organizo, todo dia, essa gaveta inusitada e, todo dia, aparece desarrumada ! Desconfiem do singular quando forem arrumar papéis em gavetas.

A gaveta de prima estava uma bagunça total, levei muito tempo para me situar.
Prima que nasceu antes de você agora é, dez anos, mais nova! Gaveta que coloca tempos e lugares bem misturados. Perde até lembranças! É uma surpresa atrás da outra. Quase um local de achados e perdidos.

Ah, finalmente, etapa concluída. Nada havia quebrado, saldo positivo na mudança inventada. Lugares e tempos arrumados, lembranças revisitadas.

Mas vocês , não queiram imaginar a trabalheira que dá, só de pensar,
nas gavetas que, ainda, tenho para abrir espaço e arrumar.
Será preciso muita paciência, calma e ajuda. Sabedoria para não continuar a embaralhar papéis.

Esposa, mulher, companheira, mãe, nora, cunhada, tia, sogra,avó, profissional, amiga. Prá não falar do país e época em que nasci ! Ufa! São muitos!

Para alguns já é necessário abrir gaveta: papéis arquivados.

E, como a realidade embaraça a gente, não custa nada sonhar um pouquinho com
uma pequena e mimosa gaveta com a etiqueta: Bisavó.

Oh! Maio por que te escolhi um mes diferente?

Bjs

Maysa

PS: O texto dedico, com carinho e amor, às minhas três netas e neto.



quarta-feira, 27 de maio de 2009

Nada Por Mim - Composição de Paula Toller - Interpretação Renato Russo

Paulinha Toller compôs e gravou. Muitas outras gravações, dessa música, são incríveis, tem até uma do Nelson Gonçalves mas, esta interpretação do Renato Russo é a que mais me apaixona!
podem conferir!
Bjs Maysa



segunda-feira, 25 de maio de 2009

CECÍLIA MEIRELES - CÂNTICOS



Em setembro de 2003, descobri uma preciosidade, no Salão Nacional do Livro Infanto Juvenil (FNLIJ), que costumo frequentar, e nessa época se realizava, no galpão anexo ao Museu de Arte Moderna.

Um pequeno livro de capa cinza, feito em brochura, fino, de uma beleza discreta e misteriosa. O tratamento editorial cuidadoso. À capa, de Moema Cavalcanti, um desenho de lírios, em delicados traços brancos, no alto à direita . Um pouco abaixo, à esquerda, o nome da autora, em fonte de cor branca , com fundo vermelho: Cecília Meireles.

O nome do livro: CÂNTICOS

A oferenda Teu nome é liberdade

A edição , terceira, traz ao lado de cada poema, o manuscrito da autora, reproduzido em fac-símile. Duas ilustrações da própria Cecília estão no livro. Poemas inéditos. Dele, um dos cânticos que mais aprecio.


III


Não digas onde acaba o dia.

Onde começa a noite.

Não fales palavras vãs.

As palavras do mundo.

Não digas onde começa a Terra,

Onde termina o céu.

Não digas até onde és tu.

Não digas desde onde é Deus.

Não fales palavras vãs.

Desfaze-te da vaidade triste de falar.

Pensa, completamente silencioso.

Até a glória de ficar silencioso,

Sem pensar.


Cecília Meireles, in Cânticos, 3a edição, Editora Moderna.



Beijos
Maysa


Dica:

O próximo Salão Nacional do Livro Infanto Juvenil , acontecerá durante os dias 10 à 21 de junho, no Centro Cultural Ação da Cidadania, no bairro da Saúde, aqui no Rio. Mais informações aqui.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

OLHAI COMO O TEMPO PASSA




A vida , numa cidade como o Rio de Janeiro, é corrida. No seu dia-a-dia, o contato humano muitas vezes, se dá quando v. esbarra nos desconhecidos, igualmente, empilhados nos vários transportes de massa.


Moro num bairro tranquilo do Rio, Santa Teresa, aqui, ao invés de multidão , nos penduramos num sobe e desce entre as ladeiras, ruelas e travessas, muitas com calçamento da época do império. Se o bonde não faz o seu caminho, você pode vislumbrá-lo, com o encanto de criança, serpenteando, barulhento pelos trilhos.
Não, não é uma volta ao passado, aqui,você entra em acordo, ou não, com o tempo. Um outro tempo.
Tempo interior, mais que cronológico. Os apelos do entorno, quase sempre, não são invasivos, apenas, sugeridos, percebidos, usufruidos.
Sim, você pode escolher, entre viver, lá embaixo, a disputa pelo centímetro de calçada, as supresas constantes e desagradáveis,com os ruídos em decibéis acima do permitido. A multidão apressada e com frequência deseducada...problemas decorrentes do tipo de urbanização ,diz o meu lado de socióloga, mas, o meu melhor argumento para morar aqui, é o prazer com que renovo minha vida todos os dias.
Tenho tempo, para me encantar com as flores singelas, algumas hoje - raras na cidade grande- surgem no jardim do meu minúsculo quintal. Brindo suas presenças como quem prova a qualidade de um vinho, com apelação respeitada.
Meus olhos e ouvidos percorrem paisagens e sons bucólicos. Bons para o apaziguamento e elevação da alma.
Viver aqui precisa de um ritual diário entre a sensibilidade e a paisagem, o clima, as pessoas.
Por isso, contrapondo-se à precária presença e baixa conservação pelo poder público no bairro, mais que um acaso, viver por aqui, é uma escolha.
Tem em seus aspectos difíceis: o acesso, por transportes coletivos, não coberto em muitos trechos; ruas com iluminação precária ou inexistente, escadas imensas sem manutenção, apoios ou corrimãos.
É ,uma forma de vida arrastada e saboreada ,por seus moradores, anos a fio.
Amo o meu bairro. Paixão de criança, de quando visitei, com mãe e avó, uma prima vinda do Maranhão.
Voltando para nossa casa, em Botafogo, à tardinha, dentro do bondinho, vi a bela Baía de Guanabara, soberana, do alto do morro, alí bem perto , no Largo dos Guimarães, onde termina a rua Cândido Mendes.


Bjs
Maysa

terça-feira, 19 de maio de 2009

VILLA LOBOS -BIDÚ SAYÃO - Bacchiana n. 5



20 DE MAIO DE 2009

Ouçam junto comigo a bela voz de BIDÚ SAYÃO, nessa comovente peça do Maestro Heitor Villa-Lobos.

Beijos


Maysa






POR CAUSA DE VOCÊ - TOM JOBIM / DOLORES DURAN







Este mes de Maio flagrou a minha veia nostálgica.Mas, beleza é.
Em qualquer quilate, meridiano ou temperatura.
Procurando uma música - melodia e letra - que me deixou apaixonada desde que a ouvi pela primeira vez... achei POR CAUSA DE VOCÊ .
Espero que gostem e, se discordarem, avisem que é prá eu saber com que ando compartilhando preferências!
Bjs

Maysa





domingo, 17 de maio de 2009

FESTA LITERÁRIA DE SANTA TERESA - MAIO 2009








LYGIA BOJUNGA, a autora homenageada.
Na programação do evento um café da manhã em sua companhia. Ótima idéia, mas o encontro, logo a seguir, com seus leitores foi inesquecível. Amorosa, vibrante, conversadeira, uma criatividade desconcertante, generosa, educadora na ativa. Notável presença de mulher, também moradora do bairro. Passei todo o tempo, ouvindo-a comovida. Um luxo existencial.
A equipe de professores do CEAT-Centro Educacional Anísio Teixeira - os criadores; seus alunos, os intérpretes.



FERREIRA GULLAR, o autor sempre festejado. Suas histórias irônicas, tempos passados revisitados com sabedoria, simplicidade e bom humor. O público, apaixonado.
ONDJAKI, a " fala " sensível e madura de um autor jovem.
A 1a Festa Literária de Santa Teresa, foi um sucesso.Estive lá.

Encontros prazerosos entre autores e leitores, público atento, alegre. Gerações de mestres e alunos, pais e filhos, moradores e visitantes.Uns, atraídos pela primeira vez buscando, no prazer de ler e ouvir histórias, o fio longo das diversas linguagens literárias. Outros, flanando pelo bairro de Santa Teresa, amado e descoberto de várias maneiras.
A única livraria,Largo das Letras, ponto de referência de alguns lançamentos, oficinas de ilustração e contação de histórias, troca de livros.
Os doces portugueses de Alda Maria , no platô da livraria. A própria doceira servindo suas delícias na barraquinha.
Ateliês abertos,restaurantes superlotados, exibindo filas civilizadas. Música,poesia, grupos jovens, estrangeiros curiosos , brasileiros de tantos lugares e sotaques.
De tudo um pouco acontecia.
Alí, no Largo dos Guimarães, ainda pela manhã, presenciei cena de disputa explícita, por um ponto de mendicância, entre uma mulher decidida e um homem acuado. Ela, vociferava sobre a ocupação do lugar e ele, contrapunha envergonhado, a garra e o espaço já perdidos.
Apresentações, parcialmente, interrrompidas por insólitos ruídos cotidianos do bairro.
A adaptação do livro "A Bolsa Amarela" , de L. Bojunga, com os alunos do CEAT, recebeu primorosa ajuda de sonoplastia, contundente e regular, na decolagem dos aviões do Aeroporto Santos Dumont . As repetidas manobras dos motorneiros dos bondes, no Museu do Bonde , local da encenação, contribuiu do mesmo modo, para testar a atenção e a capacidade auditiva da platéia .
No Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, a voz intimista de Ferreira Gullar, por algumas vezes foi abafada pelo pregão da paçoca num megafone possante e, por latidos fortes de um cachorro incomodado com os passantes. Enquanto isso, o poeta discorria sobre a poesia neo-concreta, o exílio, as arbitrariedades das ditaduras, a urgência em fazer o Poema Sujo - "que já nasceu com nome". Santa é assim...
O público só ficava inquieto quando não conseguia entrar nas salas lotadas dos encontros.

Neste ponto,cabe sugestão à coordenação do evento. No próximo, não se furtem, ao colocar na recepção, pessoas da equipe que encaminhem e possam orientar na organização das filas de entrada, de autógrafos. Protagonizei um tombo prosaico, e bastante dolorido, para conseguir um ambicionado autógrafo. Nem o autor nem a leitora precisavam do constrangimento causado pelo fato inesperado(!).
Pensando no conforto do público leitor e do autor, a acomodação de ambos, nos espaços escolhidos tanto quanto a organização das filas é " organização de cidadania".
Este ano, adultos, com alguma frequencia, não deram aos jovens o melhor exemplo.
Vi muita coisa que ainda estou digerindo, deliciosamente, como os "bem-casados "de Alda Maria.
Os musicos de partido alto,Tantinho da Mangueira e Marquinho China , dando um show de malícia e "repente" nos versos improvisados do desafio musical, no lançamento do livro " Na ponta do verso: Poesia e improviso no Brasil", de Alexandre Pimentel e Joana Correa.
À noite, também no Jasmin Manga, o grupo Balaio Carioca, encantava e empolgava a plateia, com alegria , ritmo, afinação e a bela interpretação de Agenor, do pandeiro, alí, cantando um samba de raiz, e depois Vika Barcellos, soltando a voz e a beleza , num repertório brasileiro de primeira. Estavam todos no paraíso!


A 1a Festa Literária de Santa Teresa valeu. Parabéns. Os que lá estiveram vão querer voltar no próximo evento. Daqui há dois anos? Isso não foi revelado.
Bjs
Maysa



Um último presente inspirado na FLIST, um poema de ONDJAKI.

“intimidar o poema a ser raiz”


era um poema lateral aos sentidos.
ganhava formato ébrio
ao nem ser escrito.
longe dos pensamentos
imitava uma pedra
[aí as palavras drummondeavam].
longe das lógicas
– com tendência vagabunda –
o poema driblava lados avessos
de noites
e animais
[aqui as sílabas manoelizam, barrentas].
mas uma estrela nunca brilha
tão solitária;
encarece-se também de luuandinar,
miar à couto,
esvair-se para guimarães...
era um poema carente de afectar-se
a ramos gracilianos.
assim alcançava
o estatuto
de raiz.
cheirado, emitia brilhos tímidos
– fosse um pirilampo.

sábado, 16 de maio de 2009

MAIOS DE ONTEM E HOJE II









Maio de 74, levou minha mãe. Curioso, ela partiu bem no mes em que tanto louvou a graça de Maria. Talvez, por isso mesmo tenha ido, à chamado da imaculada, tomar assento eterno num céu sem nuvens plúmbeas, sem tempestades, sem violência.
Maio de 79, levou jovem ainda, uma querida amiga.
Imagino, carneirinhos inocentes e muita gente boa ao lado delas, gente não ... anjos que um dia passaram aqui num trem rápido.

Vinte oito maios depois ,recebo um presente lindo, diferente. Emoção e amor renovados.
Me vi alí, repetida.
Para sempre inscrita nesta vida: uma menina e... trouxe, em seu belo nome composto, o nome de Maria . Essa benção é minha primeira neta, a primogênita companheirinha.
Passados mais quatro maios, chega uma pirilampa agitada, sempre ligada, esperta,doce .
Assim ,vi devolvida parte importante de minha alegria com 2 netas, nascidas nesse mes mágico.

Felicidade, como tudo o mais, sempre vem acompanhada . Para completar um quarteto ganhei um casal de netos gêmeos. Ao todo 3 netas e um neto. Experiência de paixão à primeira vista.
Outros maios mágicos hão de chegar , estou preparando a emoção e o espírito.
Bjs
Maysa

quinta-feira, 14 de maio de 2009

MAIOS DE ONTEM E HOJE











copyright Tine Soares
rosas.jan 09




Maio chegou ! este de 2009 já está quase a meio, duas semanas corridas, e meu tempo é ...agora.


Sim, faço-o como um exercício de reflexão sobre as histórias de ontem e as que estão acontecendo.
As primeiras lembranças da minha infância, remetem à Maria, imaculada, aos cânticos doces e emocionados em seu louvor.
Mãe e tia, católicas praticantes,filhas de Maria... os rituais religiosos recontados por elas mas não seguidos pela menina quase agnóstica, que fui.
Minha emoção, no entanto, volta inteira, ao ouvir os cânticos. Acho-os lindos. Um delicado olhar humano para saudar a figura, também delicada, serena, apesar do sofrimento, de Maria.
Desconfio ser possível existir em cada mulher,um lugar de doçura e amor incondicional, inexpugnado! A cultura construiu-o para muitas gerações antes da nossa.

Almejar esse impregnado e inatingível estado de ser do "feminino", aqui na terra será delírio, êxtase?

Os tempos, são bem outros. Do Maio, mes de Maria e das Noivas, ao Maio de 68.
Primeiras manifestações coletivas, nos jovens da França, depois no mundo todo.

Esse tempo do Proibido Proibir, mudando comportamentos e criando outras esperanças.
Desse maio, que a história recente conta e reconta, temos muitas evidências e sabemos bem da sua importância.
Mudou a cara do mundo.A relação entre jovens e as gerações que os antecederam. Faz parte do imaginário de todos que o viveram e dos que viram e ouviram os resultados. Nas artes, nos relacionamentos, nos sonhos e nas decepções.
Há, ainda, no mes de maio, o Dia das Mães, hoje, absolvido por quase todos, do apelo comercial, da estratégia de vendas que o originou.
Mãe é mãe, pelo menos assim se pensava, enquanto Freud tratava os sintomas e as causas de tanta dor humana.
Hoje, o que significa o singelo mes de maio, para um coletivo cada vez maior de pessoas, nesse mundo globalizado?

Não sei, para mim ainda sinto o perfume das rosas... que vieram de abril.

Bjs

Maysa








sábado, 9 de maio de 2009

DIA DAS MÃES - Maio de 2009



Unanimidade, entre mulheres de muitas gerações, tem o músico Paulinho da Viola.
Converso com as jovens estudantes e profissionais, ouço suspiros, elogios. Todas as mulheres mais velhas e, queridas, da minha família "foram apaixonadas" pela música do Paulinho.O verbo está no tempo passado porque elas já se foram.
Nossos pais conheceram-se na juventude, cultivaram a amizade,deixando-nos como testemunho, um sentimento surpreendente,duradouro perdurando por toda a vida dos dois, César e Manoel.
Neste Domingo, D. Paulina, mãe do cantor é a única sobrevivente do grupo originário de amigos.Para ela, minha singela homenagem, neste DIA DAS MÃES.
Amiga e mãe dedicada, uma benção tê-la por perto. Os que a conhecem sabem do quilate.

Reproduzo, aqui, a sua música preferida, composta pelo filho famoso: Coisas do Mundo Minha Nêga. Aproveitem a delícia de voz , a suavidade do encontro letra e música.
Saudades de minhas queridas ancestrais: Mãe, avó, tia. E das amigas que já partiram, Emilita,Regina,Marina, Júlia e muitas mais.



Bjs

Feliz Dia das Mães

Maysa

sexta-feira, 8 de maio de 2009

CRY ME A RIVER - Diana e Julie

Músicas,as que gostamos, lembram algum lugar, uma situação, pessoas...Das que gosto há mais tempo,todas, vêm de minha infância e do incrível fascínio por música que minha mãe teve e passou prá mim.Uma criança não esquece jamais.
Escolhi, Cry me a River, tocada e cantada por Diana Krall, versão contemporânea excelente. Mas, encontrei a primeira que me encantou, com Julie London , resiste ao tempo como um bom vinho. Provem, são duas safras excelentes. Garanto.

Bjs

Maysa

DIANA KRALL




JULIE LONDON

terça-feira, 5 de maio de 2009

HECKEL TAVARES - PENAS DO TIÊ II







A criação e produção de uma revista eletrônica,como o blog, traz inúmeros desafios mas,prazeres e descobertas imprevisíveis.Recomendo.É sobretudo, exercício e criação constantes.
O Ninho e a Tempestade está longe, ainda, de alcançar minha meta de trabalho e lazer.
O ninho real está pronto, mamãe passarinha escolheu o galho, a árvore, o quintal (o meu), faltam os filhotes abrindo o bico atrás de comida...A tempestade afugentou-os.

O Ninho virtual segue... engatinho, ando, paro, caio...volto não, necessàriamente, nessa ordem.
Sonho, com um espaço sempre acolhedor, que traga coisas, ideias e representações da cultura, sem passar correndo pelas escolhas...Quero-o também dinâmico, moderno, melhor dizendo, contemporâneo. Parecido comigo nas coisas boas, se aproximando do desconhecido desejo, do outro, que também é meu.

Estou apaixonada pelas possibilidades e dedico minhas tentativas aos amigos que pacientes ensinam e tiram minhas dúvidas, aos que simplesmente passam e lêem, alguns deixam sugestões. Tem até os que elogiam ... ah! esses não são desse mundo, mesmo! Sou a todos grata. Merci.

Por serem múltiplos os olhares, as emoções -volto hoje- com a canção Penas do Tiê, interpretada por Maria Betânia e Omara Portuondo. Show em SP, março de 2008.
Betânia, assisti pela 1a vez, na sua estreia no Teatro Opinião, no Rio, substituindo Nara, ela tinha 17 anos. As nuances que imprimem à essa canção são tão distintas quanto igualmente lindas.

O autor de Penas do Tiê é Heckel Tavares (1896/1969),
clique aqui e v. estará no Dicionário Cravo Albin, de Música Popular Brasileira, onde encontrará dados da biografia e obra, deste alagoano, músico com formação erudita e popular.Compositor, regente,pianista e folclorista. Dele também: Azulão, Funeral de um Rei Nagô, Casa de Caboclo. Parceiros como Ascenso Ferreira, Luiz Peixoto, o poeta Olegário Mariano.


Beijos

Maysa

Sometimes I' m happy, sometimes I'm blue - Nat King Cole




Felizmente, há impressões do prazer indeléveis.Essa música cantada por Nat King Cole é uma.
Estou só começando - O lado A dos anos sessenta- Poesia em melodia e imagem.

Spring 1957. Nat, e seu trio: John Collins, Joe Confort e Lee Young.
Se gostarem é só clicar e bis.
O lado B daqueles anos ... deixa prá lá.

Bjs


Maysa

domingo, 3 de maio de 2009

ANO DA FRANÇA NO BRASIL


Acompanho alguns eventos comemorativos, aqui no Rio, sobre a relação cultural franco-brasileira. Designou-se o ano de 2009, ANO DA FRANÇA NO BRASIL.
Pretendo durante o período, continuar trazendo aspectos da cultura e arte francesas que tanto me emocionam. A programação de mostras de cinema, artistas das mais várias áreas, apresentações imperdíveis, para quem - como eu - é amante da cultura francesa.
Percebe-se o declínio da hegemonia que a fez representante, no mundo pré- globalizado, do novo para muitos povos.
Em nosso convívio,observo, nem sempre de igualdade, fraternidade mas, de paixão intensa e liberdade criadora, alguns fatos históricos estão ainda intocáveis, quando não deveriam.

Desde Villegagnon e seu sonho de uma França Antártica, fundando em 1555, nosso primeiro núcleo urbano - Henriville - localizado entre o Rio Carioca e o Morro da Glória, os contatos dos indígenas, habitantes que aqui viviam e os franceses foram, predominantemente, amistosos.
Àquela, pode ter sido uma tentativa para a criação de uma sociedade utópica, idealizada nos trópicos,com a principal característica da ajuda mútua entre seus membros.

Moro bem próximo desse belo canto da cidade do Rio de Janeiro, hoje, compreendendo parte dos bairros do Flamengo, da Glória e no alto, a soberana presença, de Santa Teresa,bairro mirante, de todas as épocas.
É região com um acervo histórico, político e social, contendo patrimonio cultural inestimável.
O bairro da Glória é lugar de memória à céu aberto, inúmeros vestígios importantes, de nossa história estão, ainda que precariamente, alí ,atestando etapas da construção cultural, social e política de nosso país e não só da cidade maravilhosa.
Não preciso ressaltar o abandono em que permanece, relegado pelas autoridades públicas, nas esferas federal, estadual e municipal, quanto à sua pertinência e testemunho de épocas imemoriais .
Destaco-o como mais referente, neste momento de confraternização histórico-cultural França e Brasil, pois aqui está a colina onde ficou situada a Cidade de Henri, de 1555`a 1560, sede da França Antártica.
Acredito, que o fatos falem mais que as versões . Os acervos de nossos museus dimensionam e registram o fato histórico como ação de corsários. Inevitável à ótica colonial...mas quanto a nós?
Quem tiver interesse acesse os sites do museu histórico, da biblioteca nacional, do arquivo nacional, do arquivo geral da cidade. Gastei tempo e adquiri experiência, mais uma vez.

Um cartão postal e político merece toda a atenção dos que governam para serem avaliados na posteridade. O bairro da Glória abriga esse valioso postal.
Um dia quem sabe, assim como Villegagnon foi absolvido do papel exclusivo de pirata e, queiram ou não, criou o primeiro núcleo urbano da região, deixando marcas significativas de sua passagem...alcaides futuros, moradores do presente, turistas curiosos e estudiosos de sempre valorizem e cuidem desse mágico e primevo lugar.

Renovo as esperanças de que todo o patrimônio referido, memorial e imemorial, seja tratado com a visão integrada dos profissionais e políticos para essas áreas públicas. Que a população ame-o , respeite e defenda.
Nada parecido com a recente e equivocada reforma municipal, do alcaide anterior, na principal rua do devastado bairro, outrora primeiro núcleo que nos constituiu.
Quem sabe uma campanha , ainda nesse ano de 2009, salva o lugar e reconta essa história de forma mais próxima da que os fatos nos apontam.

Bjs

Maysa

sábado, 2 de maio de 2009

PENAS DO TIÊ de HECKEL TAVARES com NARA e FAGNER

Essa música,com Nara Leão e Fagner me delicia.
Desculpem pela sucessão de imagens,associadas, algumas beirando o brega, que o " pacote" impõe, mas fiquemos com a doçura e afinação da voz de Nara que tudo pode!
O compositor Heckel Tavares, bem merece a homenagem que a gravação registra.




Beijos
Maysa

terça-feira, 28 de abril de 2009

Histórias de Vó...verdadeiras- Maysa Machado













HISTÓRIAS DE VÓ... VERDADEIRAS


Maysa Machado



Dos quatro netos abençoados que tenho só um menino reina no pedaço. As três mocinhas com seis, cinco e quase três revezam-se em me alegrar... Não fiz filhas mulheres.

Haja coração de vó,
 abuela, nonna!

Lá vou eu tocando a vida de descoberta em descoberta, de alegria, com as crianças, em alegria e fôlego, muito, porque avó não pode ser só um nome, no papel da certidão de nascimento. Tem que ter músculos, pernas, braços, cacunda e, sobretudo, coração para o que der e vier!

Duvidam? Dois feriados na mesma semana, escolas fechadas, pais no trabalho dando duro para sustentar a prole, crianças em casa... Avó apaixonada, dando sopa. A mistura ideal está feita. Uma tarde com os netinhos no conforto de sua casa.
 Eles e você? Não, num play com jardins suspensos, árvores e quadras esportivas, cheio de crianças, babás, e nenhuma outra
 benemérita avó. Olhos atentos, numas e noutras. Tudo com o mais apurado e discreto olhar.

Ao finalzinho da tarde, depois de acompanhar as brincadeiras, extasiada com a energia crescente e inesgotável das crianças, juntei-me ao neto e saímos explorando o lugar agradável e cheio de possibilidades para recreação.

Logo, logo uma inocente bola esquecida a um canto transformou-se, diante dos olhos e mente fissurados em futebol do guri, em objeto mágico. E pasmem! Rolou dos seus pés para os meus braços. Artilheiro, zagueiro, goleiro. Neto no ataque, avó na defesa.
O lugar, como disse, era agradável, o espaço esplêndido e... Enorme! Tudo ia bem, nem estava tomando gol! Até, já começava a me orgulhar do próprio desempenho... Assim brincávamos felizes!
Mas, eis que, surge um garoto do mesmo porte, pequeno e, igualmente, fissurado.
 É incrível ver a fisionomia, a garra desses pequenos
 craques!
 
E o garoto corria, a bola já sob domínio. Corria tanto... Ameaçando a zaga. Apavorei. Senti a iminência do gol!
Então, meu universo interior foi invadido por um grito, ainda de comando, mas já desesperado, que acompanhava a trajetória da bola. Era meu neto de cinco anos.
NA MINHA AVÓ, NÃAOOO!!!!!
E junto com o chute certeiro, o menino se retesou todo! Mas a bola... Já havia "entrado", numa trave imaginária e o gol real feito!
Coisa pro
 Nelson Rodrigues levantar da tumba com uma crônica prontinha debaixo do braço. Pensei.
E no exato momento em que o menino fazia seu golaço, eu, em êxtase, descobri que avó legal não leva gol! Morou?
Descobri que meu neto é um
 cavalheiro e eu uma instituição!


Bjs


Maysa

segunda-feira, 27 de abril de 2009

CRAVOS, CRIANÇAS, ERA UMA VEZ ...TANTO MAR!








1-Recebi, de uma amiga, a dica deste blog encantador letrapequena. Reparto tão agradável descoberta: quem tem criança, em casa, vai amar.
A capa do livro, reproduzida ao lado, induz à pergunta:
Já pensou contar "aos miúdos" a vitória do povo portugues contra a Ditadura Salazarista? A Revolução dos Cravos, em abril de 74. Depois , ora, é festa! acessar o You Tube e ouvir o Chico Buarque, em Tanto Mar. Feito à época em que ditaduras, eram a violência que vigia, vigiava, e o povo unido, se pensava, jamais ser vencido !
" Matilde Rosa de Araujo,cria um poema sobre a Revolução dos Cravos sem nunca a nomear explicitamente. Centra-se antes na vida de uma flor vermelha e num dia em que “o Sol apareceu de madrugada”. “E veio de madrugada misturado com música tão mansa que as sombras se haviam esquecido de tapar a flor.”... “Nas ruas havia flores vermelhas por toda a parte. No peito das mulheres, dos homens, nos olhos das crianças, nos canos silenciosos das espingardas. Não era uma guerra nem uma festa. Era o mundo de coração aberto.”
História de Uma Flor
Autor: Matilde Rosa Araújo
Ilustrador: João Fazenda
Editor: Caminho 32 págs., 9,99 euros .


2 -Se aprecia uma história contada com humor, ironia e ilustrada por um traço que capta o interesse dos 8 aos 80, não é preciso atravessar o oceano, ficamos por aqui , com o livro ERA UMA VEZ UM BRASIL, do nosso querido Bruno Liberati. Toda quinta-feira, o autor posta uma página, já está na 3ª. Eu, felizarda tenho o livro, com dedicatória. Mas acompanho o blog, endereço ao lado.Bom, mas os tempos são outros e vale à pena conferir a versão atualizada na rede. Dá uma sacada no traço!
Beijos Maysa

sábado, 25 de abril de 2009

OLHARES

Jardim/pomar aqui de casa
foto Ana P.














Apurando a vista,
convido a todos para descobrirem de que frutinha verde se trata.
É incrível como pedem pouco... carinho e sol !











Foto Otto Stupakoff
E esse olhar maroto do Tom? Gente, como arte está em tudo! Do ar que respiramos ao nascer, do 1º grito ao último suspiro... até no nome ARte!!!!
Beijo
Maysa

sexta-feira, 24 de abril de 2009

OTTO STUPAKOFF










Um olhar provocante, requintado,elegante,agudo... se foi, mas deixa a memória de sua época. Um pouco minha e de todos que amam a beleza e a poesia em imagens.



foto de Ruy_Fraga


Fotos, da mais alta sofisticação; não porque o assunto ou objeto, no começo, fosse a própria moda. Sua estética, sim, irradia um requinte - o da emoção em saber lidar com o êxtase.Os objetos dessa busca foram múltiplos.O resultado:uma arte da fotografia vigorosa e bela.
Era esse o olhar. Intenso, preciso, agudo e.. fez o périplo! Captura desenvolvida com maestria.

Um ser malicioso, alegre, feliz ,como um menino descobrindo a vida, do sabor ao som das palavras, da vivência à inquietude de inventar mais, menos que o conhecimento já dominado pela técnica.
Assim, o vi pela primeira e última vez. Dia 15 de fevereiro, em seu vernissage, no Instituto Moreira Salles, na Gávea, Rio.
Aconteceram, no mesmo dia e lugar: sua belíssima exposição e outra , igualmente preciosa, de Samson Flexor( 1907-1971) aqui, já comentada.

Revi amigos, alguns, como ele, fotógrafos, Paulo Jabur, Zeka Araújo. Foi um momento lindo.Otto, recebia , à todos com elegância e simplicidade. Acolhia os elogios com um sorriso maroto.


Que notícia triste a da sua partida. A vida é mesmo feita de urgências. Provocadas por algumas tempestades... que nos paralisam.
Tempestades, como a que atingiu o Rio, à noite desta quinta feira, dia de São JORGE.

Reproduzo, aqui, parte da notícia , veiculada pela agência UOL:


"Morreu, aos 73 anos, na madrugada da última quarta (22/4), o fotógrafo Otto Stupakoff. Pioneiro da fotografia de moda no Brasil, Stupakoff vivia num flat no bairro do Itaim, em São Paulo, onde teria passado mal. A causa da morte ainda é desconhecida. O artista, famoso internacionalmente desde os anos 60, realizou ensaios para revistas de moda como a americana Harper's Bazaar, a francesa Elle (cujas fotos viraram acervo do MOMA de Nova York) e a Vogue Paris. Na última revista, uma das publicações mais importantes e influentes de moda do mundo, foi responsável pelas capas a partir de 1972. Além do trabalho na área de moda, Stupakoff é também conhecido por seus retratos de estrelas do cinema como Jack Nickolson, Paul Newman, Sophia Loren e Bette Davis. O velório será realizado no Cemitério São Paulo a partir das 16h30. Fonte: UOL"

Com pesar, deixo minha simples homenagem, a esse artista que amou, conheceu e criou o belo.
Se quiserem mais detalhes sobre sua última exposição, ocorrida no Instituto Moreira Salles, cliquem aqui, O blog, Catando Poesias deu dicas de links, mostrou fotos.Vale à pena ver.


Beijo

Maysa

PS: Se algum amigo quiser postar comentário ou enviar fotos para homenagear OTTO, fique à vontade. Está aberto o espaço.

JORGE DA CAPADÓCIA - 23 DE ABRIL DE 2009


São Jorge desenhado por Roger Mello!
Upload feito originalmente por
Massarani


JORGE cavaleiro, guerreiro e santo!
Das terras distantes, díspares.Povos e suas culturas, sob sua proteção, se amparam.
Da misteriosa Capadócia a lenda se espalha e o mundo a reconta, de novo conta, canta, ajoelha e reza ! Inglaterra, Portugal, Alemanha, Brasil...Outros mais o reverenciam.

Protetor querido, elo entre pessoas e lugares. Devoção mais forte que uma só religião possa dar conta. Força maior que uma só lenda possa contar.
Vencido o mítico dragão, continua a lutar e, no imaginário de todos, montado em seu cavalo branco, são muitos os JORGES e um só, que virá para nos livrar do mal, da injustiça.

OGUN, nosso pai. Seus filhos todos guerreiros, combatentes do bem, trazem encantos e poderes.

VIVA SÃO JORGE!!!

Nas artes, em especial na música, nossos Jorges estão aí, Benjor, Mautner, meus preferidos.
O caminho é para se caminhar e quem puder continuar.

Salve a criatividade de um Jorge Amado, Jorge de Lima, a simpatia e alegria do Jorge Veiga, cantor de incomparável registro. Estarão, todos, em bom lugar mais perto do Santo Padroeiro.

SALVE SÃO JORGE!!!

Na casa de meus pais, uma imagem fluorescente do Santo, despertava em mim, além da curiosidade, uma aura de mistério... vinda dos silêncios profundos e recolhimento nas orações que os adultos faziam. Houve um tempo em que a imagem ficava no meu quarto. Assistia meu pai, cena que se repetia à cada dia, antes de sair para o trabalho, parar diante do Santo e se persignar, contrito. Um rito forte na imagem e no significado.

SALVE SÃO JORGE!!!

Beijo

Maysa

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Beatriz Bandeira - poetisa, militante política, uma brasileira centenária


copyright Alicia Paulson




Uma centenária mulher... estive com ela , hoje. Foi bom.

Conversamos, rimos e recordamos... bem, somos próximas há mais de quarenta anos. Entre nós, existem muitas pessoas queridas e já ... há quatro gerações.
Sua avançada idade, não lhe tirou o viço, a bela voz, o brilho do cabelo liso, antes escorrido emoldurando o rosto anguloso, hoje, preso numa trança branquinha e fina...em direção à nuca. Mas seu rosto, quase sempre rosado, estava pálido e sem tônus. No entanto, é incrível a ausência de rugas, deve ser a ascendência índia.
Foi uma bela mulher e continua. É uma bela anciã.
Está cega.
Ela mesma, assim decidiu, ao tempo de escolher se operava ou não uma catarata:
"Melhor não mexer com quem está quieta!" dizia, sorrateira.

Não se queixa de nada.

Quieta, movimentos suaves sobre a cama e sob as cobertas. Um passarinho aninhado, com o sol de mais um outono entrando pela janela do quarto.

E, meu começo de conversa:
-Lembra dos dias de outono, aqui, no Rio? Do tom do azul, do céu sem nuvens, a temperatura gostosa? Vai chover mais tarde, está vindo uma frente fria!

Costumo chegar, como boa filha de Iansã, trazendo "novidades", histórias de nossas crianças, falando e cantando pois, nós duas, gostamos muito de música e de melodias folclóricas.
Ah! como é bom vê-la feliz, receptiva, cheia de vida com o amoroso contato humano, que - em nós - se estabelece.
Hoje, temos uma cumplicidade, construída através das contradições e teimosias que encarnamos nessas quatro décadas.
Mais que tudo, temos um sereno afeto. Nos fazemos bem! Surpreendo-me com suas observações sobre o que nossas conversas acendem.

Tenho alguns amigos, que foram seus alunos no Conservatorio Brasileiro de Teatro. Nomeio-os, digo-lhe o quanto gostam dela e a admiram, e sempre manifestam seu imenso carinho.
Sua resposta pronta, feliz, exultante mesmo:
"Lembro bem do nome de cada um deles que você está citando! Joel, Hilário, Moisés..."
"Como é bom ser querida por meus alunos!" E, logo depois :
" Esse é um presente valioso que você , me trouxe!" e usando uma expressão tão antiga, mas não em desuso:
"Ganhei o dia!"


Valiosa é a vida. É a condição humana elevada ao melhor ponto que se pode elevar! Viver muito, ser longevo... sem uma história de vida digna atrás?

A senectude é por si uma prova de coragem mais que resistência.

Uma vez, lhe pedi a receita da tal longevidade.
Ela respondeu :
"Ter um projeto pessoal de mudança social , não ficar preocupada em torno do próprio umbigo!"
Hoje, repeti o ensinamento, ao que ela retrucou imediatamente:
"Eu disse isso? quanta sabedoria..." e sorrimos juntas !


Essas lembranças são para todos os dedicados alunos que, com o reconhecimento do aprendizado, fazem seus mestres felizes!

Em especial : Joel, Hilário, Moisés, Eva, todos lembrados... pela velha mestra


Obs: Se quiser apreciar a bela série de fotos, de Alícia Paulson - narcisos silvestres -clique no link


Um beijo

Maysa






quarta-feira, 15 de abril de 2009

TRADUZIR-SE Ferreira Gullar











Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.


Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?


in, TODA A POESIA, Na vertigem do dia ( 1975-1980),pg.335. 17ª edição .José Olympio Editora



Ferreira Gullar, é um dos meus poetas mais queridos. Sorte minha gostar de poesia e ter nascido aqui, nesta terra tão fecunda em lirismo, pluralidade, sensibilidade...
Traduzir-se, poema que hoje transcrevo, é um dos meus preferidos.


Agradeço e dedico à Maria Dolores, amiga recente, cuja sensibilidade une novos e antigos companheiros e também os amantes da poesia. A lembrança deste poema brinda nossa busca por beleza e autenticidade.


Com amor e carinho por F.Gullar e sua obra.

Maysa

terça-feira, 14 de abril de 2009

Marguerite Duras
















Assim do nada, lembranças voltam. O cinema, dessa vez, é o responsável.



Um filme: Hiroshima mon Amour, destaque cult da década de sessenta. Direção de Alain Resnais. Em pauta, o amor, a violência da guerra, as lembranças que não se quer lembrar, perdas e a esperança! Era bem o início da nouvelle vague, escola francesa de cinema.O roteiro de M.D.
A escritora, roteirista, também diretora -Marguerite Duras - é a homenageada na programação da Caixa Cultural.
A Mostra, começa, hoje, e vai até o dia 26 de abril. Faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil. Exibição de filmes e debates.

Tem o sugestivo subtítulo, após o nome dessa brilhante mulher.


MARGUERITE DURAS
escrever imagens



Para quem quiser, lembrar ou saber um pouco mais, vá ao site da Caixa Cultural, programação na cidade do Rio.
ou se desejar ler a sinopse do filme Hiroshima mon Amour, um dos endereços está abaixo.

Bom programa

Beijos
Maysa


domingo, 12 de abril de 2009



Páscoa,
que prevaleça
o espírito de compartilhar.
A Alegria de renascer
em cada fração do tempo.
O olhar amoroso
com o outro que é seu próximo.
Domingo/12 abril de 2009
Maysa








quarta-feira, 8 de abril de 2009

AMAR - Carlos Drummond de Andrade





Jardim da tia Ysa/ Ana Paula/janeiro de2009



Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



OOOOO


Ah! Seu Carlos, por que ir tão fundo?
Só prá lembrar que até "nossa falta mesma de amor" pode ser amada?
A tal sede infinita é , bastante conhecida, por todos...mas, o que fazer? como qualquer mortal, sozinho, ao perceber-se...assim "e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor."
Confesso, já amei o áspero, o inóspito, distraída e apaixonada, pela vida, que sou!
Prossigo interrogando, com certo desconforto, meu peito - ainda juvenil - em seus muitos equívocos amorosos ,vida inteira...
Nesse poema , descubro: as interrogações fazem parte da essência do amor, mais que as certezas!
Então, estou à caminho... bem melhor do que já ter encontrado!posto que a vida, por ser breve, melhor não ser conclusiva, senão fica uma chatice, dura de contornar.

Este AMAR, do Drummond, é bom para mim, para v. que está no blog e, minha escolha dedico a duas especiais jovens. Bebel e Ana P.


Bjs Maysa





domingo, 5 de abril de 2009

QUE FLOR É ESSA?




Jardim da Tia Ysa/ foto A.Paula
Na minha infância, morava numa casa que tinha um jardim encantador. O mais singelo que já vi e minhas lembranças guardam.
Ah! um pomar, caprichado com os sabores das estações. Não sei se vocês me entendem, para meus olhos de menina, não fazia diferença nenhuma: pomar ou jardim... era tudo satisfação!
Jaqueira, mangueira, goiabeira, bananeira, pés de limão e laranja... mamoeiro, amoreira.
Socorro memória! O que mais? Cada fruta tirada do pé...sensação de vida, descobertas das formas,cores, cheiros.
Bem, se desfiar as frutas gostosas, todas ...vocês matam a charada da florzinha branca e diáfana da fotografia.


Chique, não é tirar do pobre, do trabalhador, da classe média e emprestar para o FMI, não , presidente! Isso, de que o senhor se gaba , é outra coisa! mas, deixa prá lá se não azeda!

Ter lembranças sinceras de uma infância, ainda que, pobre mas rica em emoções, em beleza. É um luxo!Capricho de criança é variado. Dos tímidos aos apressados.
Lembranças boas são como carinhos e afagos! sempre, sempre nos recordarão sonhos, sabores e nos brindarão com a vontade de espalhar alegria e beijos à nossa volta.
Quem teve infância feliz sabe!
Quem teve infância sabe também!
Beijos de Domingo
( aguardando as respostas sobre a advinhação) .
Maysa

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ou Isto ou Aquilo - Cecília Meireles











Jardim da tia Ysa/ A.Paula/2009



Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.


Ou Isto ou Aquilo, 1964. In, Cecília de Bolso.org de Fabrício Carpinejar, L&PM Pocket. 2008



Cecília Meireles, é para uso interno e externo, sempre.
Ontem, li este poema que tanto me comove e, a tantos, aponta a inquietude humana.

Hoje, li ,ainda, uma entrevista com Bartolomeu Campos de Queiroz, autor mineiro,de belíssimos livros, para público de várias gerações, onde o mesmo poema é citado pelo o autor de: Até passarinho passa.

Releio e sinto-o. Foi escrito em 1964, ano também da morte de Cecília. Naquele ano conturbado, a jovem que eu era , ainda, não o conhecia. Escolhas , também, não podiam ser feitas impunemente. Nunca foi tão presente e imprescidível saber/sentir e ficar tranquilo: ou isto ou aquilo.

Hoje, 45 anos depois do Golpe de Estado, que vitimou muitos brasileiros e algumas gerações , a minha sobretudo, reflito sobre o tanto que se perdeu em sonho, alegria e coragem para transformar o país.
Para a Poesia, felizmente, sempre é tempo de descobrir e fazer.

Na violência e autoritarismo, o golpe foi contra a Nação e seu povo. O Estado Brasileiro , até hoje, reflete na falta de seriedade dos homens públicos, o compromisso rompido com os desejos mais legítimos de vida digna e igual para todos .

A Educação está entregue aos oportunistas, despreparados e descompromissados, os exemplos são muitos, salvo raríssimas excessões.Quem perde é o povo que, sem escolas gratuitas, democráticas, com professores capazes e valorizados, não pode aprender a escolher: Ou isto ou aquilo.

Onde fica a lucidez dos governantes? Ouçam essas vozes, como a densa poesia de Cecília, educadora desde os 16 anos.
A utopia de Darcy Ribeiro, que não pensava o Brasil dividido em quotas e sim amalgamado em suas singularidades.
Elas, continuam se multiplicando continuam ouvidas... dúvida , demasiado humana,que aponta nossa precária condição. Então, talvez acredite que tudo não foi em vão...


Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.


Um bom mes de Abril para todos.

Bjos


Maysa

sábado, 28 de março de 2009

Ho Chi Minh - Diário de Prisão


Aço e Sensibilidade


Um dos livros, que me acompanham vida à fora e à dentro, é o pequeno "Diário de Prisão" de Ho Chi Minh. "Poeta com alma de dragão".

Esse companheiro de sonhos, projetos de transformações sociais, políticas e pessoais ... sempre me encantou. O livro, não é um diário, no sentido ocidental que damos . São 115 quadras e poemas Tang, no estilo chines clássico.

" Os versos foram produzidos em chinês, num caderno comum, intencionalmente escritos nessa língua e não em vietnamita porque Ho sabia que qualquer texto em língua desconhecida teria enfurecido seus captores, aumentando as suspeitas que já pesavam sobre êle." ( introdução, pg13 e 14)

Retirei-o do lugar dos preferidos na minha estante e seleciono aqui, dois poemas para o regozijo dos passantes em meu cantinho, no meu Ninho.


I - OUVINDO O CANTAR DO GALO


Você é só um velho galo comum,
Mas toda madrugada você canta saudando a aurora.
Có-có-ri-có ! Você tira a gente do sono.
Sua tarefa de cada dia tem a sua importância.


II - NOITE DE OUTONO


Junto ao portão, está postado o guarda com seu rifle.
No alto, nuvens desordenadas escondem a lua.
Os percevejos fazem manobras nas camas,
enquanto os mosquitos formam esquadrilhas, atacando como caças.
Meu coração viaja mil li para longe, no rumo de minha terra natal.
Meu sonho é um emaranhado de tristezas, um nó de fios misturados.
Inocente, completo agora um ano inteiro na prisão.
Usando minhas lágrimas como tinta, transformo meus pensamentos em versos.


in, Diário de Prisão de Ho Chi Minh, Ed. Difel, Rio.Sem data, nem nº de edição

Beijo
Maysa

segunda-feira, 23 de março de 2009

A 4ª Madrugada

Na solidão do quarto
solidão da vida
Na total solidão da madrugada
silêncios falam.

Então, gatos nos muros e telhados,
anunciam
o espetáculo do gozo prolongado.
Estridentes são os sons.
Confundem-se com o choro
de fome dos recém nascidos.

O mundo lá fora continua a correr
a partir... a deixar de ser...
sem vestígios ...
Onde um tempo mínimo
só para se bem viver?

O hoje, desfaz o ontem.
O dia seguinte amanhece
sem ter dormido como eu.
Não há sono, nem sonhos.
Não sei de você,
nem de mim.

Maysa

.../setembro / 2007


Madrugadas de insônia são mais frequentes do que se pode acreditar. Vá lá, tenho uma gaveta de papéis... amarrotados, que não devia mais ler! A insônia é uma prima distante do sono fujão, contei para minha netinha numa historia que inventamos juntas.

Bjs Maysa

sábado, 21 de março de 2009

April in Paris - Billie Holliday and ...





Finalmente, fui à exposição , no MAM, do Vik Muniz. Acaba Domingo. Pressa, muita pressa. Não dá prá perder!


Ele capturou tudo que o séc. XX destacou e produziu e o que este início do XXI já nos mostra. O imaginário de nossa época está lá (des) embrulhado e devolvido sob as mais várias formas, leituras, materiais e temas. Não deixem de observar bem a distribuição, das sucatas eletrônicas, realizada pelo artista, no espaço territorial do seu Mapa Mundi.


Agora, vou fiando uma conversinha bem despretenciosa ... e sobretudo com linguagem musical variada em torno de um só tema.


O próximo mes de abril é lindo em qualquer lugar! No Rio, em Paris...Aqui , outono, lá ...printemps.


Vou pedir aos amigos (as) e os que acompanham este blog para deixarem sua impressão sobre a estação !


O que tem de bom o Outono prá você? Já sabe ou não descobriu ainda?


Que tal acessarem este link?


http://www.youtube.com/watch?v=huNEW6lazvs


ou este?

http://www.youtube.com/watch?v=S6dKi-R6Vqc



ou ainda este?


http://www.youtube.com/watch?v=tsUDC80ieCo&NR=1

ou este, surpresa?

http://www.youtube.com/watch?v=3ZWYun6GzMo&feature=related

Eu gostei, muito dos quatro!

Bjs Maysa